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Habituámos-nos a ver séries com vários cenários, ampla ação, conflito, solução de casos. Lembro-me do CSI, mas a lista não se esgota nesse exemplo. Nesse sentido, uma série que não sai da sala de interrogatório teria tudo para correr mal. Mas não é o caso. Criminal UK permite-nos mergulhar na trama psicológica do interrogatório, dos silêncios, do bluff, da acusação, da argumentação.
★★★☆☆
Esta série espanhola, disponível na Netflix, traz para Málaga a história escrita por Javier Castillo para o cenário de Nova Iorque. A trama desenrola-se em torno do rapto e da busca por uma menina de 5 anos, no Dia de Reis, mas mistura-se com o drama de uma jovem jornalista traumatizada pela violação coletiva de que foi vítima, e que agarra o caso junto ao peito e não o larga durante uma década.
★★★☆☆
Days of Sand é um triunfo das novelas gráficas e um dos melhores, ou mesmo o melhor, livros que li em 2022. O quarto livro de Aimée de Jongh conta a jornada, baseada numa história verdadeira, de um jovem fotografo americano em plena Grande Depressão. Aos 22 anos, em 1937, John Clark é chamado a documentar as miseráveis condições vida das pessoas que viviam no chamado Dust Bowl, onde, à pobreza extrema se juntavam intensas tempestade de areia, que prejudicavam a saúde e as colheitas. Clark faz o seu trabalho sem deixar de ser profundamente tocado pelas histórias desesperadas que encontra.
O nome Wrexham pouco me dizia até ser comprado por Ryan Reynolds, ator de Hollywood, conhecido por fazer de Deadpool e por parecer ser o tipo que todos queremos ter como melhor amigo. Com a compra, notícias associados e o documentário decorrente da operação (que recomendo vivamente), tornei-me fã do hoje pequeno clube galês, que joga no estádio mais antigo do mundo e esta época está prestes a terminar o calvário na National League, amadora. Mas, esta não é uma história à la Chelsea, onde os milhões ganham jogos. É a história de uma comunidade unida e apaixonada, que viveu épocas de muito desespero e de logro por parte de donos menos sérios. É a história repetida mil vezes, na Grã-Bretanha, de um clube de futebol como centro de uma pequena cidade de trabalhadores comuns que vêm o escape e alegria num pedaço de relva.
A nostalgia alimenta-se de partilhas, de espaços e referências comuns que formam uma memória coletiva face a elementos experimentados. As séries de televisão têm esse efeito, tanto pelo que nos oferecem como tema, quanto pela recordação comum de as assistir. O revivalismo da nossa infância vem, então, em doses adornadas. É isso que faz a série Os Goldberg. Absolutamente genial a forma como a partir das memórias individuais se inscreve uma série na memória coletiva, como a partir de um caso familiar se toca o coração de um geração, com todos os clichés e lugares-comuns que constroem um sentimento de partilha. Com um toque de humor e interpretações notáveis. Não se via nada assim desde Quem sai aos seus.
A vida altera-se e renova-se com a paternidade. É como se o "eu" se diluísse e fosse feito em "nós". A felicidade ganha novos contornos e o que outrora era difícil de compreender passa a fazer todo o sentido. Tornamos-nos adeptos das conquistas alheias de forma arrebatadora, e cada detalhe conta, cada lágrima é nossa também, cada riso é um sorriso de sol. As pequenas conquistas do dia-a-dia tomamos-las ao peito, repleto de satisfação, porque os pequenos passos, os baby steps, são de gigante. A alegria do pequeno JM quando começou a gatinhar e a alcançar coisas que não lhe eram acessíveis foi marcante, o mesmo digo dos primeiros passos sem apoio, cheios de gargalhadas de uma profunda satisfação de quem se ergueu da terra aos céus e perscrutou o horizonte. Gargalhadas que nos ficam tatuadas ao coração. As mesmas de quem conquistou a montanha das escadas e tornou tal feito a brincadeira favorita. Subir, subir sempre. E nós, garantidamente, deste lado, sempre com uma mão estendida, um sorriso, e a celebrar mais do que o próprio as suas conquistas.
A sonoridade quente, envolvente e profunda, que se mescla com a poderosa e lírica voz de Dani Klein, fazem deste (1996) um dos meus discos favoritos. Há na música de Vaya Con Dios um convite ao mergulho em dias cinzentos, chuvosos e tristes, à busca da memória, ao revivalismo. Para mim esta banda belga é tanto de boa música quanto de recordações de outras viagens, de outros hojes lá atrás.
Para quem foi adolescente nos anos de 1990, como eu, esta série é como um bálsamo. Uma viagem em torno do VHS, da cassete, das calças largas, dos blusões e fatos de treino, dos posters das bandas nas paredes dos quartos, a chegada dos piercings, as camisas largas. O pano de fundo é os EUA, mas não deixa de ser muito nosso.
Ainda tenho esta cassete, guardada no pó das outras que já não tocam, ou porque o rádio já não tem entrada para a fita que pára e temos de virar, ou porque as memórias doem e mais vale não ir mexer no baú das recordações. No entanto, porque o Verão me é tão nostálgico, lembrei-me deste álbum de Michael Jackson, e dos Verões que tocava na 125 Azul, com os pés de fora, a ansiedade a saltar do peito, e a alegria absoluta da infância regada às possibilidades de um Verão quente e com o rio refrescante ali ao lado, na tua terra F.
«memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações» (Pierre Nora, 1993: 5)